sexta-feira, 9 de julho de 2010

Orando!

Ah minha vida...
Deixe que um dia,
Ao menos um dia,
eu possa amar em paz!
Iludindo-me de que esse amor seja tudo
e nada em mim mesmo...
Deixe que me zombem
e que eu,
de posse de todas minhas convicções
e certezas,
possa justificar minha ilusão...

Deixe que eu faça uma ideia
só minha desse amor.
Que este "EM SI"
escape de minha concepção
e que eu viva
plenamente e inocentemente
este sentimento,
que não deixa de ser uma sensação.

Que um dia eu possa esquecer
a mim mesmo,
esquecer outras possíveis vontades
e desejos...
Pra que pacifique
a minha trajetória apaixonada.

E que seja Ela.
Sabe aquela?
Isso...
Ela mesmo,
por quem guerreio.
Que seja dela
o meu amor
CEGO...

Incógnito...

Uma me consome
como um cigarro aceso
na boca de um fumante viciado,
até as ultimas forças de sua tentação.

Outra ressurge em meus pensamentos
como uma FÊNIX,
Renascida das cinzas
do cigarro tragado por uma.

Uma me encanta,
com todo seu amor em chamas
e ciência de que eu posso ser melhor,
mas eu sei de mim.
E sei que não!

Outra reencanta,
desejo cada centimetro,
cada menção de seu sexo,
cada possibilidade
de que possa me amar.

Que grande homem sou eu...
Escravo de duas mulheres!
Uma por quem insisto em acreditar
que mudarei e serei perfeito
por ela.
A outra por quem esperei
e ainda espero que me ame...
De verdade.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Anacronia


Na lenda de Tróia, Páris raptou Helena, ou melhor, Helena fugiu com Páris. Acredita-se que essa foi a faisca que acendeu o pavio da grande guerra entre o mundo grego e a Tróia de Homero.

O que há por traz de toda essa insinuação? Por conta de uma mulher, dois mundos, duas culturas põe-se a guerrear? Ou será que aquela Grécia só precisava achar um motivo concreto pra ir ao fronte de batalha?


Quão atual é esse assunto! Incrível como pensamos no mundo antigo de uma forma tão distante, quando na verdade, toda mentalidade que possuímos é herança da tradição greco-romana. Nós, homens atuais, também culpamos mulheres por acenderem o pavio de nossos problemas. As Helenas existem, luminosas, belas... Fogem com nossa imaginação e nos transformam em gregos, prontos pra batalhar. O grande "porém" é que os gregos confiaram na invencibilidade de um herói com o ponto fraco acessível. Mesmo com a guerra ganha, o herói morreu, as marcas da batalha são visíveis, as baixas são consideráveis e cá estamos nós, prontos pra voltar a nossa vida anterior, sem saber que pra isso atravessaremos uma Odisseia.


E a simbologia dessa Odisseia? Essa jornada, que parece não ter fim, encontra qual objetivo? Penélope! Mais um mulher. Irônico, não? Primeiro uma mulher nos põe em guerra e nos traz um dilema, depois, pra sair desse problema, passaremos por uma odisséia até encontrar a felicidade dos braços de outra mulher. As Penélopes! Elas também existem hoje, mas entenda que as Penélopes e as Helenas são a mesma mulher. Vamos entender isso como momentos distintos de uma mesma pessoa.


As Helenas, são aquelas por quem brigamos, aquelas por quem viajamos meio mundo apenas pra busca-la. São aqueles sopros de amor sofrido. Penélopes são o porto seguro, a mulher que tem certeza do retorno de seu rei. Não pensem nela como alguém controlável e maleável. Penélopes são as verdadeiras merecedoras do amor que insistimos em entregar às Helenas. Elas tecem seus mantos de liberdade de dia, mostrando força e superação da ausência de seu amado, apenas um disfarce, uma máscara pra mostrar a sociedade. Mas a noite elas desfazem as costuras, desfiam os tecidos de libertação, chorando as noites de solidão.

Onde estamos nós, homens atuais, nessa historia? Estamos saindo da guerra, esquecendo Helena, enfrentando mares, raios, monstros, bruxas, deuses e o próprio inferno pra chegar ao encontro da tão sonhada felicidade ao lado de Penélope.